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Perspectivas

Parar a guerra contra o Irã!

A declaração a seguir foi publicada originalmente em inglês em 21 de junho de 2025, antes dos massivos ataques aéreos do governo Trump contra o Irã. Embora tenha sido escrita antes desses desenvolvimentos, a análise da declaração sobre as forças subjacentes que impulsionam a guerra imperialista e o perigo de uma conflagração global é apenas mais uma confirmação deste último ato criminoso de agressão.

Fumaça vinda de uma instalação de armazenamento de petróleo em Teerã, no Irã, dois dias após ter sido atingida por um ataque israelense em 14 de de junho de 2025. [AP Photo/Vahid Salemi]

O imperialismo americano e seu proxy israelense continuam a escalar sua guerra de agressão ilegal e não provocada contra o Irã, com B-2s capazes de carregar armas nucleares e grupos de batalha de porta-aviões se preparando para lançar um ataque iminente.

Quase 25 ano após os Estados Unidos invadirem o Afeganistão e o Iraque, a classe dominante americana está novamente se preparando para lançar uma guerra criminosa, desta vez contra um vasto país com uma população mais de três vezes maior do que a do Iraque.

Através da guerra, o aspirante a ditador Donald Trump e a oligarquia financeira que governa por meio dos partidos Republicano e Democrata esperam:

  • Reimpor as correntes da subjugação neocolonial ao Irã 45 anos após o povo iraniano ter derrubado a ditadura monárquica do Xá apoiado pelos EUA.
  • Garantir o controle imperialista irrestrito dos EUA sobre a principal região exportadora de petróleo do mundo e as principais rotas comerciais marítimas globais, preparando-se para a guerra contra os principais adversários estratégicos de Washington, China e Rússia.
  • Afastar a crise econômica e o colapso financeiro por meio da pilhagem.
  • Desviar a atenção de uma enorme crise interna e da crescente oposição social.

As consequências dessa aposta imprudente serão catastróficas para o povo iraniano, para o Oriente Médio e para todo o mundo.

Por todo o seu gangsterismo armado, engano e traição, o resultado desta guerra não será menos — e provavelmente será mais — desastroso do que as “guerras de escolha” que o imperialismo americano travou no Afeganistão, Iraque, Vietnã e Coreia.

Os establishments políticos nos EUA e em outros centros imperialistas, por outro lado, estão em modo total de propaganda de guerra. O Irã é vilipendiado como um “Estado terrorista” e uma ameaça “existencial” para os povos israelense e americano.

Mas quem levará isso a sério após décadas de mentiras e criminalidade — após ter sido bombardeado com afirmações de que o Iraque possuía “armas de destruição em massa” e intermináveis justificativas para Israel enquanto bombardeia hospitais e massacra pessoas nas filas por comida em sua campanha para matar e expulsar os palestinos da Gaza?

No início da invasão do Iraque, há 22 anos, com a estratégia de “choque e pavor” do Pentágono, o presidente do World Socialist Web Site, David North, escreveu: “Seja qual for o resultado dos estágios iniciais do conflito, o imperialismo americano tem um encontro marcado com o desastre. Não pode conquistar o mundo. Não pode reimpor grilhões coloniais sobre as massas do Oriente Médio.”

O imperialismo americano está indo à guerra não apenas contra as 90 milhões de pessoas do Irã, mas contra o mundo inteiro. Na sexta-feira, milhões foram às ruas do Irã e de outros países do Oriente Médio para manifestar sua oposição ao ataque ilegal dos EUA-Israel.

Por todo o mundo, as pessoas entendem que o governo Trump está se preparando para lançar uma guerra de agressão em aliança com Israel, cujo ataque genocida à Gaza o tornou o Estado mais odiado do mundo.

Nos EUA, existe um crescente movimento de massa contra Trump, com 10 a 15 milhões de pessoas se unindo aos protestos “Sem Reis” do dia 14 de junho. Além disso, uma pesquisa do Washington Post revelou que os americanos que foram entrevistados se opõem à participação dos EUA em uma guerra contra o Irã por uma margem de quase dois para um.

A classe trabalhadora, como os clássicos marxistas explicaram, deve avaliar sua atitude em relação a qualquer guerra examinando os interesses sociais envolvidos.

A guerra dos EUA-Israel contra o Irã é uma guerra imperialista. Ela está sendo travada contra um país historicamente oprimido. O fator dominante em sua história política tem sido a luta de um século pela emancipação primeiro do imperialismo britânico e depois do americano.

Além disso, a guerra faz parte de uma cadeia interconectada de operações militares que se estendem por décadas. Os mesmos governos, organizações e meios de comunicação que apoiam o ataque de Israel contra o Irã hoje foram os mais estridentes em apoiar a guerra contra a Rússia, provocada pelas potências imperialistas e justificada com base na invasão da Ucrânia pela Rússia.

Nos últimos 35 anos, o imperialismo dos EUA tem buscado reverter as consequências da onda de revoluções anticoloniais e sociais do século XX e combater a erosão de sua hegemonia global por meio de um militarismo e agressão cada vez mais expansivos.

O World Socialist Web Site, o Comitê Internacional da Quarta Internacional e seus partidos afiliados, os Partidos Socialistas pela Igualdade, posicionam-se inequivocamente contra o imperialismo dos EUA e seu proxy israelense.

O Irã é um país capitalista, liderado por um regime nacionalista burguês reacionário. Tendo chegado ao poder a partir da Revolução de 1979, seu maior medo é a classe trabalhadora. Diante das crescentes ameaças dos EUA nas últimas duas décadas, a burguesia iraniana combinou repetidos esforços para alcançar um entendimento com Washington com um impulso para eliminar o que restou das concessões sociais feitas no desfecho imediato da explosão popular que derrubou o Xá.

O Comitê Internacional da Quarta Internacional se opõe ao governo burguês no Irã. Mas sua atitude em relação à iminente guerra é determinada pelo fato de que o Irã, um país historicamente oprimido, está sob ameaça de subjugação e aniquilação por uma aliança de potências imperialistas. A resistência iraniana à investida imperialista é totalmente legítima e politicamente progressista.

Aqueles que argumentam que o caráter reacionário do governo iraniano nega o direito do Irã de se defender estão dando uma “cobertura de esquerda” ao impulso de guerra imperialista.

Como escreveu Leon Trotsky em 1937, pouco depois que o imperialismo japonês lançou sua guerra de conquista contra a China, quando um país oprimido é atacado por imperialistas, o dever dos socialistas é defendê-lo, independentemente do caráter reacionário de seu governo. Respondendo àqueles que se recusaram a defender a China porque era então liderada por Chiang Kai-shek e o Kuomintang nacionalista burguês, que estrangulou a revolução anti-imperialista de 1925-27 e massacrou dezenas de milhares de trabalhadores movidos por ideias revolucionárias, Trotsky explicou:

A China é um país semicolonial que o Japão está transformando, diante de nossos próprios olhos, em um país colonial. A luta do Japão é imperialista e reacionária. A luta da China é emancipatória e progressista. …

Japão e China não estão no mesmo plano histórico. A vitória do Japão significará a escravização da China, o fim de seu desenvolvimento econômico e social, e o terrível fortalecimento do imperialismo japonês. A vitória da China significará, pelo contrário, a revolução social no Japão e o livre desenvolvimento, isto é, desimpedido pela opressão externa, da luta de classes na China.

A classe trabalhadora no Irã e globalmente deve se opor ao ataque dos EUA-Israel, mas deve fazê-lo por meio de seus próprios métodos de luta de classe. Isso significa desenvolver uma contraofensiva global da classe trabalhadora que vincule a luta contra a guerra imperialista e o ataque cada vez mais amplo aos direitos sociais e democráticos da classe trabalhadora à luta contra o capitalismo. Isso exige a luta pela construção de seções do CIQI no Irã, em todo o Oriente Médio e internacionalmente.

Em termos militares convencionais, os agressores americano e israelense possuem uma vasta preponderância de poder destrutivo. Contudo, como a história das revoluções e das guerras coloniais demonstrou repetidamente, a força militar, embora significativa, é apenas um dos fatores.

A principal vulnerabilidade do imperialismo reside no enorme e rapidamente crescente potencial de oposição social que existe no Oriente Médio, em toda a Ásia, África e na crescente resistência dos trabalhadores nos centros imperialistas.

É essa força que constitui a resposta decisiva à agressão imperialista e à guerra global em expansão e que deve ser mobilizada. Isso só pode ser feito em oposição implacável a todas as burguesias rivais, seus governos e representantes políticos.

Nos EUA, todas as frações do Partido Democrata e seu principal voz na mídia, o New York Times, estão apoiando uma guerra que foi organizada por um presidente que eles próprios admitem estar violando sistematicamente a Constituição e buscando estabelecer uma ditadura presidencial.

Trump está travando guerra em duas frentes: no exterior contra o Irã e domesticamente contra os direitos democráticos e a classe trabalhadora. Esses são dois lados do mesmo processo. Uma guerra com o Irã será inevitavelmente acompanhada por uma escalada da repressão política e da austeridade social. Com o orçamento de guerra já superior a US$1 trilhão, a classe trabalhadora será forçada a arcar com a conta.

O impulso anti-constitucional de Trump para estabelecer uma ditadura presidencial nos Estados Unidos e o lançamento de uma guerra ilegal contra o Irã são elementos interconectados de um governo criminoso. A interação desses elementos ameaça os EUA e o mundo com uma catástrofe. Se existe algum país que precisa urgentemente de uma mudança de regime, esse país é os Estados Unidos.

Os mesmos processos básicos estão presentes na Europa. As conversas realizadas pelas potências imperialistas europeias com o ministro das Relações Exteriores do Irã em Viena na sexta-feira foram uma fraude, destinadas a pressionar Teerã a se render. Quaisquer reservas que tenham sobre a pressa de Trump para a guerra dizem respeito a seus próprios interesses predatórios: que podem ser queimados no inferno que Trump e Netanyahu acenderam; que a guerra total no Oriente Médio desvie o material de guerra dos EUA da Ucrânia; e que correm o risco de serem excluídos por Washington dos frutos da conquista e da pilhagem imperialista.

Os regimes capitalistas da China e da Rússia, baseando-se em cálculos mais pragmáticos e de curto prazo e se agarrando à esperança de que possam alcançar algum tipo de acordo com Trump e o imperialismo dos EUA, não tomaram medidas para se opor à investida contra o Irã.

Quanto ao regime iraniano, sua conduta antes e durante a guerra apenas enfatiza que a burguesia nacional é incapaz de travar uma luta contra o imperialismo. Mesmo agora, após Trump ter exigido “render-se incondicionalmente”, ele persiste em fazer apelos ao aspirante a ditador fascista, enquanto pede aos gângsteres imperialistas europeus que intervenham em seu nome.

Esta guerra, como a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, surge das contradições fundamentais do capitalismo: entre uma economia globalmente integrada e o sistema de Estados nacionais obsoleto, e entre a propriedade privada dos meios de produção e o caráter social da vida econômica moderna.

O Comitê Internacional da Quarta Internacional e seus Partidos Socialistas pela Igualdade afiliados fazem um chamado pela oposição em massa aos planos do governo Trump de lançar uma guerra direta contra o Irã. Protestos, manifestações e greves devem ser realizados para se opor a este ato de agressão imperialista.

Apenas a classe trabalhadora internacional, armada com um programa socialista revolucionário, pode pôr fim à guerra imperialista e ao sistema capitalista que a gera. O CIQI insiste que a luta contra a guerra deve ser fundida com a luta pelo poder operrio e pela reorganização socialista da vida econômica global.

Entre em contato e junte-se ao Partido Socialista pela Igualdade clicando aqui.

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